04 fevereiro 2011

Escadas a metro

Saí da firma já o sol me estava a queimar os olhos. Entrei no metro e pensei que fosse da queimadura, mas penso que não, vi uma senhora de idade a descer as escadas de costas. Muito devagar, segurando-se com a mão magra, que mais parecia umas raízes segurando-se ao chão. Perna esquerda, perna direita, mão esquerda, bengala direita era o esquema de descida em rapel pelas escadas ocidentais do metro do Oriente.
- Precisa de ajuda? - perguntei. Ela levanta os olhos por cima dos óculos, baixa-os e continua a descer.
- Precisa de ajuda para descer? - insisto.
Desta vez nem me olha.
- Não seria melhor descer de frente? - finalmente uma reacção. Olhou-me de modo diferente e faz-me um sinal para me aproximar e inclino para a frente.
- Tenho medo. - diz-me em surdina - Tenho medo de ver o medo, assim desço de costas. E com esta me inclino para trás.
- E se eu a ajudar consegue descer de frente e encarar o medo das escadas?
Os olhos azuis com uma moldura enrugada à volta de muito medo ter pressentido e visto olham-me. A bengala muda de mão. E eu torno-me na sua bengala.
Descemos as escadas. Perdemos o metro, peço desculpa e obrigado. - larga-me a mão troca a bengala de mão e enquanto espero pelo metro ela sobe e desce as escadas a provar que nunca teve medo.
Eu sorri-lhe.

17 junho 2010

Lutador de sumo

Mas o caído lutador de sumo ficou cravado no sofá vermelho, só inclinando-se para guardar a missiva de Ohayou manchada de sangue, que há segundos lhe tinha dado.
Pegou no copo de maracujá, levou-o à boca e quando estava a acabar viu dois polícias e entrar na sala muito apressados com as armas na mão.
- Pousa o copo! Pousa o copo! Pousa o copo! - repetiu o sargento.
Em câmara lenta o copo pousou na berma da mesa e estilhaçou-se em mil pedaços. Shinozuka estava calmo demais, comparando o stress da força policial que entrara na sala. Neste momento era mais que as mães.
O sargento repetitivo pegou-lhe no pulso esquerdo, rodou para trás das costas e o frio do ferro das algemas abraçou o pulso. Quase não fechava.
Uma voz gritou Shinozuka!
Saltou e estava o seu irmão a segurar-lhe o braço com o fim de o acordar.
- Estavas a ter pesadelos.
Shinozuka limpou o suor com o braço.
- Chegou uma carta para ti. Conheces alguém que se chame 19?
- Possivelmente sei quem é?
- Possivelmente?

07 fevereiro 2010

Menina que não dança não ama

Ilustração: Sofia Morais (obrigado)
-A menina que não dança não ama. - diz o dj de trás da pilha de cd.
Esta foi a primeira frase que Valquíria ouviu quando entrou na discoteca Céu Dançante. Vinha acompanhada de mais 3 amigas que não tem nada a ver com a história. E a cobrir o seu corpo um normalíssimo vestido cor-de-rosa, mas curto.
Como ela quer amar teve que dançar. Não é grande esforço para ela.
E dançou, dançou tanto que já estava em modo automático. Os pés, ancas, braços e cabeça dançavam como se obedecessem à música sem grande querer. Até a preta menina dos olhos dançava na íris verde, como de um palco se tratasse.
Ela sentia-se como uma diva, só ela é que contava, já nem se lembrava que tinha vindo com as suas amigas.
-Quem dança sem par é como se fosse um pirata sem a perna de pau. - mais um mandatário do dj.
E nesse preciso momento uma jovem aproxima-se da Val.
-Quero ser a tua perna de pau. Queres ser a minha pirata?
-E que tal irmos trocando à medida que formos dançando?
Val sentiu pela primeira vez amor à primeira vista. Mas o seu coração caiu e foi esborrachado quando o pé de Val beijou de uma forma bruta do seu amor.
-Tu és burra ou quê - passou-se o seu ex-amor-à-primeira-vista - Não sabes dançar, burra.
Val virou-lhe as costas para não ver as lágrimas que já manchavam o vestido cor-de-rosa. Sentou-se num escabelo no bar e ficou aí, olhando para o coração que lhe foi retirado e era pisado por todos que iam pedia uma bebida ao bar.
Só saiu de lá quando uma das suas amigas apanhou o coração e a levou a dançar.

30 janeiro 2010

Snob

- Agora que finalmente o Euromilhões me saiu não vou comprar nenhuma casa no Algarve. Vou comprar neste bairro.
- E abandonas a tua na Lapa?
- E porque não? Agora que sou mesmo rico qeuro ver como vive o povo.
O amigo em surdina disse
- Snob
- O quê?
- Compra aquela dos arcos

29 janeiro 2010

- Eu não acredito, ele está mesmo a tirar um burrié do nariz. Já alguma vez tinhas visto um gigante a tirar um burrié do nariz?
Alice olhou para ele, olhou para o gigante, olhou para ele outra vez e disse:
- Eu nunca tinha visto um gigante.

28 janeiro 2010

O viajante cego

É preciso ter azar. Taparam-me os olhos, logo o meu sentido mais apurado.
Sei que estou numa selva, pois sinto a humidade e ouço os barulhos de animais. E é de dia, mesmo estando húmido, sinto o calor do sol. As pingas de suor já caem.
A floresta deve ser densa, porque já e bateram todas as folhas do mundo no braço e nas mãos. De certo choveu porque tenho as mãos molhadas, detesto mãos molhadas.
Peço desculpa estou constipado.

27 janeiro 2010

Recordações mais ou menos vividas

- Esta foto é de quê?
- Foi quando eu e o meu marido fomos dar uma volta de balão.
- Tu não sofres de vertigens?
- Sim. Ele tirou a foto e eu ia fazendo companhia. Estou a ver as imagens da viagem pela primeira vez.

26 janeiro 2010

- Alice e isto é onde?
- Não faço a mínima ideia. - disse com desprezo pois estava a escrever.
- Oh Alice o que é que aconteceu à filmagem para estar toda termida? Um sismo? - disse a amiga com um ar curioso. - Ou o Pedro estava-te a fazer cocegas?
- Não, estava a escreve o que estava a filmar.

11 dezembro 2009

Dança de dedos

Num beco escuro e muito apertado encontrei três dedos, dois deles dançavam uma moda muito entrelaçadinhos, que tocava numa cassete de 90 minutos. As colunas eram duas caixas de ovos de seis.
O terceiro, que era um mindinho muito delgado, estava encostado num canto a beber um dedal de verniz, para ver se passava o tempo.
Tive muita pena da solidão desse mindinho. Saquei da minha navalha muito usada pelo meu avô e cortei o meu mindinho da mão direita. Estanquei a hemorragia com o lenço.
Os dois entenderam-se e começaram a dançar.
Mesmo assim achei que a festa estava muito morna.
Cortei o anelar da mesma mão, era o dj porque aquela música nem o meu avô ouvia. O single de Spank Willy causou alguma estranheza, mas rapidamente os dedos deram às falangetas um novo ritmo.
Eu gosto de ver muita gente divertida e de imediato a navalha cortou o médio e o indicador. À primeira fiquei arrependido por os ter cortado porque não queriam dançar, mas a música seguinte era a "Kiss and Resolve" e aí estava mais um casal de dedos entrelaçados a dançar.
A festa durou mais uns cinco minutos porque veio o gato da vizinha arruinar a festa destruindo tudo.
Da mão direita só o polegar ficou, não há problema vai servir para eu apanhar uma boleia para o hospital mais próximo porque já estava a sentir fraqueza de tanto sangue perdido.

03 dezembro 2009

Não pode ser este perfume

Há um ano atrás fui fazer uma radiografia ao nariz, para saber o que eu tinha, pois ando sempre ranhoso. "Sinusite aguda" foi o que doutora Não-Sei-O-Nome me disse e receitou-me dois comprimidos que nunca tomei, mas comprei. Agora já sei a razão para tanta assoadela, para tantos lenços de papel gastos.
Tenho que fazer um teste literário, ler O Perfume de Patrick Süskind para ver se me cheira.
Primeira cena o nascimento do personagem. Fantástico a maneira como está escrito que me permite com sinusite aguda sentir o cheiro do peixe misturado com o podre. Se eu fosse ao Mercado da Ribeira nem que uma peixeira me atirasse uma raia à cara, eu não cheirava que ela me ia atira-lo à cara. O resultado do teste foi positivo, a vida pós livro manteve-se, não me cheira a nada.
Obrigado senhor escritor por me deixar cheirar todos os aromas que Jean Baptiste Grenouille, com o seu jeito para a alquimia, criou. Isto mais parece uma frase de alguém que cegou e conta como são lindas as cores do arco-íris e que o barulho das ondas a bater nas rochas só fazem sentido vendo-as.
Mas, por muito bom que este manuscrito seja, tenho um fraquinho literário do outro lado do Oceano, no Chile, em Luis Sepulveda.
O seu estilo, não é o meu. Mas a sua simplicidade a escrever é incrível. Eu adoro.
Estou-me a referi mais propriamente a "História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar". Não há algo mais irritante quando nos contam o final. Há mas não se conta o fim de nada. Deu-me vontade, quando li o título livro e ter concluído e verificar termina mesmo assim (espero que já tenham lido isto, porque eu voltei a fazer a mesma coisa), de lhe contar o fim de um livro que ele queira muito ler.
Aqui apresento dois livros que me marcaram um por me devolver o cheiro, por pouco tempo e outro pela simplicidade.

Como te odeio

Para ti só te desejo o pior. Mais do que o pior. Que te façam o mesmo que fizeste ao João.
Depois de tanto tempo a amar, o meu grande amigo João, acabas com ele e logo dessa maneira. Não podias ter falado com ele, cara-a-cara? Mas não, teve de ser de um modo mais cobarde, por sms. Que cobardia.
Não estás curiosa pelo que ele tem para te dizer? Ou mesmo dar-lhe uma segunda hipótese. Pode ser que cheguem a um entendimento.
Ele não te traiu? Que eu saiba não, posso-te adiantar já. Tratou-te mal? Bateu-te? Não te amava o suficiente?
O QUE É QUE ELE TE FEZ?
O João já não é o mesmo sem ti, pois não sabe onde errou. Há uma semana que não abre a boca, só mesmo para suspirar e dizer palavras soltas e sem sentido. Convido-o para ir ao café ou para beber um copo e está ali, só em corpo presente parecendo uma ameba. Não sei onde hei-de encontrar o João que eu conheço. Queres ajudar-me a encontra-lo?
Margarida, põe-te no lugar dele. Gostavas que ele te fizesse o mesmo?
Não te acho má pessoa e daí estar-te a escrever, senão tinha-te ignorado e estava preocupado com o João. Espero mesmo que vás falar com ele. Imploro-te por tudo, pelo João.
Antes de o fazeres queria falar contigo a sós. Podemos combinar um café ou mesmo um jantar. Pode ser no Gaiteiro, tem um ambiente descontraído para uma boa conversa.
Tenho tido problemas cardíacos, mas nada de grave, não vou morrer a não ser que não me dês parte do teu coração para curares o meu.
Sim eu amo-te, mesmo antes de vocês começarem esse, para mim, amor eterno de 3 anos. Só estava à espera do momento que o vosso namoro acabasse, e finalmente teve o seu término tardio.
Tenho a consciência que vou perder todos os meus amigos, mas assim prefiro do que ficar sem ti.
Responde-me o mais rapidamente possível e de preferência por carta. É mais romântico.

Beijos para ti Margarida.

Pedro Alves.

09 outubro 2009

Modéstia à parte

Eu sou uma pessoa muito antojada, toda a gente me antoja. Consegues antojar isso? Claro que não, nem que te antoje.

08 outubro 2009

O meu relógio morreu

Era um dia normal do ano de 1212, dia 12 de Dezembro. E os dois ponteiros apontavam para cima. 12 horas, bela hora para acordar. Saí de casa para ir à bola e era meio-dia. São horas de mudar a pilha.
Cheguei à estação de comboios, quer o relógio da gare quer o da senhora que estava ao meu lado diziam meio-dia. O meu mantinha-se na mesma hora.
Um senhor que vinha com os bafos na boca perguntou-me.
- Podiam-me dizer as horas, por favor?
- Está parado, precisa de pilha.
- Não é disso, não.
Isto já é estranho, mas como nunca fui escravo do tempo e este meu relógio é feio como tudo não preciso dele. Antes de chegar ao estádio, comprei um cachecol do meu clube por 12 Dinheiros. Isto não pode ser coincidência.
- Desculpe - disse eu para o vendedor - não está a pedir pouco pelo cachecol?
- Nem por isso. - olha para o relógio - Tem horas que me diga?
- Meio-dia, mas...
- Ok está certo com o meu. - nem me deixou terminar, mas estou contente, vendeu-me o cachecol bem barato e isso é que interessa.
Chegado ao estádio o relógio que contava o tempo de jogo já estava nos 12 minutos e 12 segundos.
- Sabe o que é que se passa com as horas? Estão todos os relógios a marcar meio-dia. - disse eu para o meu vizinho de jogo.
- O dono das horas faleceu e só pensam substituí-lo para a próxima semana.
- E como é que vão medir esse tempo? - pergunto eu
- Da mesma maneira que estão a medir o tempo do jogo - mal acaba de falar, vira-se para o jogo e grita. - Golo!

02 julho 2009

O Amor Irá Nos Separar

Esta discussão, mais tarde o mais cedo, haveria de surgir.
- É a última vez que te digo para não limpares os meus escritos. Da próxima vez que passares com o paninho embebido em Sonasol, eu pego em mim e nos meus filhos e vou-me embora onde possa escrever quando e onde me apetecer.
- Nossos filhos. – rectificou Frederike e repetiu. – Nossos filhos. Se queres escrever pega num papel. As paredes não servem para escrever. – disse com toda a calma do mundo, pois não vale a pena gritar.
O resultado foram dois dias sem se falarem. As pazes, como manda a Lei dos Amantes são reatadas na cama, com uma apaixonante noite de amor.
O quarto estava frio. As almas mortas estavam na cama aquecida pelo coito selvagem que tanto lhes aprazia. Frederike desceu do pescoço delgado até à vulva de Alice ainda húmida o dedo indicador que parecia que ia desenhado figuras no seu corpo.
- O que achas de tu escreveres e eu ilustrar? – disse ao ouvido em vez de dizer “amo-te” – Podemos até depois pensar em editar o que surgir para um livro. - propôs Frederike.
- É in…crí…vel. Já não me lembro de uma noite tão excitante como esta. Mas não. – aí Alice perdeu o controlo. Tirou o indicador de cima dela e começou-se a vestir o tom de voz com mais pujança - Tu não sabes mesmo quando parar? Sabes da minha patologia mas estás sempre a apontar o dedo, a tentar arranjar-me.
As mãos de Frederike subiram até à nuca, percebendo, outra vez, que metera a pata na poça. Tinha que fazer algo.
De um salto da cama para o chão, caminhou até ao escritório, deixando-a sem palavras e com a cabeça deslizando de um lado para o outro do pescoço, questionando o destino dele.
Chegou à terceira gaveta de aglomerado e tirou a caneta que Alice costuma escrever nas paredes. Das duas uma ou mandava-a fora à frente dela ou a esconderia. Ganhou a terceira hipótese, o livro arbítrio.
Entrou no quarto, ainda a sua companheira de amores e desamores, estava a calçar uma das quatro meias. A caneta vermelha empunhada na mão esquerda escreveu, onde deveria estar a cabeceira da cama, “o amor irá nos separar”.
Não é das frases mais ternurentas de se dizer num momento peculiar destes mas foi a única forma de dizer que nunca mais iria apagar o que quer que fosse do que ela escrevesse.
- Olá! Queres ir tomar um café?
A primeira reacção foi de desconfiança, mas como para Alice estava tudo acabado e os gémeos estavam em casa da querida sogra porque não aceder ao pedido do seu futuro ex-marido.
O café tinha um ambiente jazzístico, dois músicos com ar de pelintra estavam agarrados ao saxofone e ao baixo. A música não interessava, até que este não era o café onde ele costumava ir.
- Como é que te chamas? Quero-te conhecer – pergunta Frederike, deixando Alice perdida na conversa. Chega a cabeça para a frente e pergunta.
- Onde é que queres chegar com essa conversa da tanga? Daqui a nada estás-me a falar do tempo – os olhos dele não largavam qualquer movimento de Alice. Num movimento brusco, a mão dele rodeia a cabeça e puxa para um beijo, mas falhou. Acertou na bochecha. De imediato tenta outra vez e aí o beijo prolonga-se, havendo um assentimento da parte dela. Os dois olhos abrem muito devagar, como que ainda estivessem a apreciar o beijo.
Um golo no gin tónico serve para aclarar a voz e reflectir o que ele vai dizer a seguir, mas é bastante simples.
- Eu amo-te loucamente.- disse esta frase batida tão baixo que todo o bar ficou a olhar para os pombinhos. A cena finaliza com um beijinho e um sorriso de ambas as partes.

30 junho 2009

Piano de cauda rasgada

Nadine Puerto nascida no coração da Jamaica, estava à espera da entrada em palco como um avião no seu voo inaugural, os motores a funcionar para dali a nada se preparar para chegar aos céus. Também ela se estreava num palco grande. Uma gota que escorria pelas costas não a incomodava, as mãos mergulhavam de 5 em 5 minutos numa taça de vidro cheia de pó de talco só para não haver nenhum deslize na sua estreia.
O mestre de palco, do Centro Cultural da Ria, fez-lhe um sinal que marcava a hora e segredou-lhe “Tem calma miúda” fazendo um fornicoques na barriga, só para descontrair. O burburinho do público já se fazia ouvir há algum tempo, aqueles 5 metros até ao piano pareciam mais longos que o normal. A sua entrada foi do pior. Um prego mal martelado rasgou-lhe o vestido roxo acetinado e não ajudou muito o facto de Nadine o ter puxado como se Lúcifer não a quisesse deixar entrar. O público da estreia deu folga ao estofo das cadeiras de veludo e aplaudíu-a sem reparar no rasgão do vestido.
O silêncio tomou a sala por pouco tempo. As primeiras teclas a serem marteladas até se encolhiam sabendo que iriam ser sacrificadas pela suavidade irada da ponta dos dedos delgados de Nadine.
Com uma vénia, agradeceu a comparência de todas as pessoas.
O concerto começou e como ficara prometido, as teclas do instrumento de cauda de ébano polido serviram de saco de boxe para a raiva da pianista. Mas o que chegava aos ouvidos dos espectadores era um som harmonioso, nunca ouvido, até um pouco desconcertante, causando mau estar.
Não havia começado há muito tempo o concerto, quando um dedo selvagem socou uma tecla preta e de imediato outro dedo bateu ainda com mais força na mesma, fazendo-a saltar. Tal era a ira de Nadine lembrando-se de Sandra agarrada ao seu namorado, que os seus olhos cegaram na partitura e vingaram-se os dedos nos dentes pretos e brancos de Sandra. Era ela a culpada pelas teclas estarem a ser arrancadas à dedada. Chegou a tal ponto que Nadine começou a atirar as teclas que ficaram no seu colo para as primeiras filas indiscriminadamente. O público não percebeu e em caso de dúvida, no fim daquele apocalipse, a sala encheu-se de palmas, enquanto Nadine olhava para o piano desdentado.
Uma só tecla tinha ficado para memória, mas foi arrancada e guardada na mão que quase a liquidificara.
Não houve agradecimentos por parte da artista houve sim, para fechar o ramalhete, um coice, com tal raiva, na perna do piano que sucumbiu com as duas pernas no meio do palco.
Nadine nunca mais largou a tecla preta que tinha roubado ao piano como mostra da sua ira contra Sandra.
Nunca mais tocou piano, nunca mais se apaixonou e nunca mais se irou.

25 junho 2009

Ainda não sei

- Eu não acredito. Sinceramente não consigo perceber como é que consegues ser tão céptico em relação ao tarô? Está tudo ligado, todos os seres são ligados por energia e tudo é energia.
- Não consigo acreditar nessa arte de adivinhação. Na parte que falas em energia, até acredito. – eu tinha de meter uma piadinha só para irritá-la – Para mim cartas são para se jogar à sueca e só 40 na mesa. – obviamente que tive de dar uma risada. E não esboçava qualquer tentativa de rir. A piada era básica.
Uma hora de conversa e as suas sardas ainda não me tinham convencido que 78 cartas me ditavam o destino, ou como ela dizia. - As cartas só te indicam caminhos, possibilidades que não são nada certas, nada é certo na vida. Tu é que escolhes o teu caminho.
Um encolher de ombros esclareciam a minha resposta, mas sou muito curioso e preciso de ver para crer como São Tomé diria.
A Luísa é uma boa amiga e não a vou desiludir.
- Bruxinha – carinhosamente assim a tratava – vamos lá, estou de espírito aberto, lança lá as cartas.
- Não vou lançar para tu continuares a gozar comigo.
- Juro.
A lua estava cheia e estávamos em casa dela, a casa de Campolide de Cima. A decorar a sala tinha dois grandes tapetes persas e a iluminá-la tinha um candeeiro cheio de design, que não combinava em nada com os tapetes. Mas quem é que se lembra de meter tapetes nas paredes? Só mesmo a minha bruxinha. Ao centro tinha uma mesa de mogno com uma meia toalha a meio da mesa quase da mesma cor da madeira. As cartas ainda estavam na caixa riscada com dourados que um persa lhe deu quando da compra dos tapetes.
Primeiro veio o pedido para eu me concentrar. Os olhos dela fechou-se, deixo cair os braços e sacodi-os como que a libertar todas as energias negativas. Ao mesmo tempo a cabeça tende um pouco para baixo. O movimento inverte-se.
- Tens as pernas cruzadas? - Não tenho. - Dá azar enquanto se faz o lançamento das cartas, nada pode estar cruzado.
Vou-lhe perguntar como é que vai estar a minha saúde daqui a 20 anos.
- 20 anos portanto terás 48. Certo? – nem mais respondi com um acenar com a cabeça.
A primeira carta a sair para a mesa é Enamorados, posta em frente a essa Força seguida do Louco. Fazendo uma cruz, para o lado direito Imperatriz e para o outro lado o Imperador. Olha com atenção, faz umas contas de adição. Passa com a mão direita por cima das cartas como quisesse ler pelo tacto.
Com o meu olhar leigo para as cartas, daqui a duas décadas abro uma banca com um letreiro em cima a dizer “Dou ou vendo saúde”
Mas a cara dela indica que eu é que vou ser um desses clientes da minha banca.
- Se chegares ao 48 é uma sorte. – diz muito secamente, não faz nada o género dela. Deve ter mesmo encarnado o espírito de uma bruxa – Algo que pensas que irá ser bom para ti vai-se virar contra ti. – uma pausa prolongada e bebeu um trago de sumo de laranja – Mas irás ter sempre duas pessoas ao teu lado.
- Pois, está bem eu não acredito nisso. – só disse isso para espantar o que ela tinha escrito na minha alma. Morrer antes dos 48, nem pensar. Eu quero estragar os meus netos assim como a minha avó Natália me estragou com mimos. Coisas de avó.
- Tu é que me pediste para lançar as cartas e é isto que elas dizem. – e sobrevoa a mão por cima do quinteto – Como é óbvio espero que elas estejam erradas.
Nesse preciso momento que eu ia dizer já não sei o quê. Uma picadinha aflige-me o coração seguida de uma dor muito forte que me deixa estendido no chão. Quando acordo tenho a Bruxinha ao meu lado mas não vejo os tapetes horríveis porque o hospital não tem o mesmo mau gosto da Bruxinha. Pois é, o hospital de Santa Luzia vai ser, durante 5 anos, um local que eu irei frequentar todos os meses só uma vez. Tive um AVC. Ou foi da ruindade ou graças a ser feio que Deus não me quis a seu lado.
Um metálico pacemaker irá acompanhar-me até sete dias antes de eu fazer 48 anos até eu passar por um detector de metais avariado e me parar o pacemaker como que um relâmpago.
Não posso embarcar no avião porque tenho um pacemaker. Foi a piada que eu disse a mim mesmo enquanto o meu cérebro não morria. E nesse instante ouço a voz da Bruxinha perguntado me afirmativamente - Não há coincidências pois não?
Só nessa altura, num desses breves acessos de clarividência, me ocorreu que nada era isento de sentido, que tudo no mundo está relacionado com tudo o resto.

16 junho 2009

A Natureza tem piada

Mestre Gustavo Rafael conta às suas filhas, após ter-lhe sido lhe dado a extrema-unção, a razão para a sua mais polémica estátua.
A peça tinha 1,56 metros de altura e 79 centímetros de largura, toda em bronze maciço, de nome “A Natureza tem piada”.
Para uma pequena mão cheia de críticos, pouca piada tinha. Mas o que é que interessa ao Mestre grisalho? Ao contrário do que valia essa peça para si, nada. Sempre teve muito orgulho em tudo o que construiu e concebeu, incluindo, claro, as suas duas belas filhas, com olhos cor esmeralda e cabelo tirado do ouro mais brilhante que o sol consegue iluminar. Para ele, duas verdadeiras estátuas vivas.
“A Natureza tem piada” é uma peça bem estranha ou bela conforme a cabeça que a via: O busto é de um cavalo com as crinas ao vento, o corpo de uma mulher com os seios e a vagina tapadas com um véu, com uma cauda de sereia mais larga que os seus largos ombros e todo o seu corpo coberto por escamas de serpente. Esta peça e o seu criador viajaram pelos mais conhecidos museus do Mundo e por outros tantos que ficaram conhecidos após terem passado por lá. O Mestre era muito possessivo com esta peça, era como fosse a sua terceira filha. Sempre que aterravam vinha uma manada de jornalistas e curiosos com as mesmas perguntas mas em línguas diferentes.
-Por que gosta tanto desta peça?
-Esse ser existe?
-De onde vem essa inspiração?
Ele respondia-lhes sempre com uma caminhada calma e um olhar vago no infinito, como que os atravessasse. Só em Kuala Lumpur ele respondeu em português de Camões.
-As respostas ficam só para mim.
Ficou toda a gente atónita pois primeiro ninguém estava à espera que ele dissesse o que quer que fosse e segundo ninguém sabia português. Mesmo assim, daí em diante, as mesmas perguntas se iam repetindo de aeroporto em aeroporto, de galeria em galeria.
Após anos de viajar com a sua peça fez o primeiro comunicado à imprensa numa sala contígua ao seu ateliê.
“-Eu Gustavo Rafael destrui “A Natureza tem piada”, quer dizer, todos vocês que estão nesta sala e os vossos colegas de profissão ajudaram-me a pegar na estátua e todos nós a derretemos. Após isso as minhas lágrimas apagaram o rubro fogo que rebelava dentro do forno e só a câmara fotográfica e de vídeo instalada dos meus olhos gravou esse espectáculo por vocês patrocinado.”
Todos os jornalistas ficaram sem perguntas na ponta da língua, as máquinas fotográficas ficaram sem flashes e as de vídeo ficaram sem espaço no disco.
Para os apreciadores da sua obra ficaram tristes pelo desaparecimento da majestosa peça. É mentira. O Mestre escondeu a estátua debaixo de uma lona, no fundo do seu ateliê. A peça não fora nem será derretida. Era só uma manobra de diversão para os jornalistas o deixarem em paz.
Pois essa estátua é o amor da vida dele, é a mãe das duas esculturas que estavam a seu lado no leito da morte e que confessa algo que já deveria ter dito há anos às suas filhas.
-Ana Teresa é o nome da vossa mãe. Era a berlinesa mais bela e mais escultural de sempre com o cabelo pintado de ouro e uns olhos que pareciam esmeraldas. Vestia qualquer trapo e continuava bonita, até que encontrou este trapo e apaixonou-se numa das minhas viagens a Berlim. Veio comigo para Castelo Branco e passado um ano tinha vos começado a criar. Na altura eu pensei “Espero que saiam à mãe” e como que ela lesse os meus pensamentos disse, “Espero que saiam a nós”. Eu tinha razão, saíram à vossa mãe, ainda bem. Passado 3 anos, 2 meses, e 1 dia depois de vocês terem nascido acordei só na cama. Sem saber o que fazer fui vos deixar à vossa avó e fui reportar o caso à GNR, não me deram a resposta que eu queria. “Sim, já a encontramos.” Mas foi mais “Vamos fazer o que pudermos para encontrar a sua mulher.” Desenhei, naturalmente, as lágrimas que me arrefeceram face. O povo diz que o tempo cura, mas o que é que o povo sabe? Nada.
-Pai, queres um copo de água? – pergunta a Catarina, a mais velha.
Os olhos dele disseram que “Sim” e “Obrigado”. O copo vinha com a água quente como ele gostava para matar a sede. Mais calmo continua a história.
-Recebi no segundo dia de Janeiro de 1974 uma carta sem remetente, abri, vi uma foto horrível e lia na carta “Sou eu. Não te consigo explicar porque te abandonei e o que me aconteceu numa carta, mas continuo a amar-te. Beijos e muitas desculpas.” A minha revolta deu para fazer uma homenagem à vossa mãe em bronze.
Mas porque não fazer uma homenagem à nossa mãe quando ela era bela? Pensaram as gémeas. O Mestre ouvi-as.
“Esta não é a vossa mãe. E a vossa mãe não partilho com ninguém.”
Esta era a resposta que qualquer jornalista gostaria de ouvir e de escrever na sua coluna semanal de crítica artística, dissecar, explorar, subverter e ser entendida por outras cabeças de maneira a vender mais umas centenas de jornais.
O nome da obra deveria ser, “A Natureza não tem piada absoluta nenhuma, gosto mais dela em estado natural” mas era muito longo e antagónico.
Assim pôde morrer em paz.

Companhia

8 da manhã, bandeira hasteada, todos os 21 homens com bota engraxada, ataviados e em sentido. O sol ainda ia longe de nascer.
O Capitão Rocha sai da messe e grita vozes de comando.
- Meninas! Hoje temos que fazer cinco quilómetros. Atenção às caravelas, já foram avistadas muitas e outra deram à costa.
Todo o pelotão da unidade de Calceteiros Marítimos 3 compreendeu-o. A calçada subaquática, para a ilha do Ferrel, tinha de estar impecavelmente construída até ao dia do Combatente.
Cada um com o seu balde cheio de pedras numa mão e as garrafas de ar noutra partiram em passo de corrida para o bote, batendo com força o pé direito, como se quisessem partir o chão.
O sargento Arede, responsável por esses homens, fala por cima do barulho do motor do barco.
- Lá em baixo não quero ver ninguém a fumar!
Ordens são ordens.

14 janeiro 2009

Re-Natal

Um por um, no dia dos Reis, foram ver o que tinham na meia após terem aberto os presentes, do maior para o mais pequeno. Todos ficaram a estranhar a prenda dada pelo Diogo.
"Eu quero um excêntrico nesta família."
"Mas excêntricos só dá com o Euromilhões!" diz o irmão mais velho com um ar jocoso enquanto lhe passava a mão na cabeça "Mas obrigado na mesma. É a prenda mais original que alguma vez recebi."
A Joana, namorada do irmão mais velho do Diogo, amarrou o burro por não ter referido a camisola de lã em bico que ela lhe tinha oferecido.
No sábado seguinte estava a família toda reunida, em frente à televisão. As bolas entram na tombola e começa a girar. O primeiro número é anunciado.
"25... 17... 9... 3... 34... 1... e o suplementar... o 46!"
"Nada, nem um número."
"Eu só acertei no suplementar."
"Dois números dá alguma coisa?"
Nem uma frase de contentamento.
Excepto uma. A do Diogo.
"O Faísca acertou em todos!"
O silêncio é rei na sala dos Arede.
"Então..." diz a mãe Arede "o prémio é do dono do Faísca... que é o meu filho querido!" e puxa-lhe as bochechas enquanto o Faísca não tira os olhos do Diogo.
No dia seguinte o dono do candeio vai à "Loja do ZOOOO" e compra a casota maior e mais bonita, mas muito simples pois o Faísca é uma "pessoa" muito simples. E cinquenta quilos de ração, mas daquela que tem nutrientes espectaculares que beneficiam a flora intestinal do seu melhor amigo.
O resto do dinheiro, o Diogo voltou a pendurar as 10 meias à beira da lareira cheias de dinheiro. Isto tudo enquanto todos os Arede estavam a dormir. Todo o dinheiro muito bem dividido por todos as meias dos membros da família.
De manhã o Diogo é o primeiro a acordar, quer dizer ele nem dormiu.
Desce as escadas a correr e grita como que não soubesse.
"Mãe, Pai! o Pai Natal voltou! O Pai Natal voltou!" diz isso aos pulos enquanto o Faísca saltava e dizia qualquer coisa na linguagem próprias dos canídeos que ele só percebia "Au, au!"
Toda a gente desceu as escadas e não acreditaram no que viram, as meias a transbordar de dinheiro.
"É mesmo Natal outra vez." disse o irmão mais velho do Diogo em surdina."

24 outubro 2008

Jonny Bigode

Ele foi um dos maiores se não o maior dos maiores, era mesmo grande, nunca conheci um gajo tão bom no que fazia, era mesmo mesmo bom no que fazia.
Ele era o Bigodes. Alguns tratavam-no por Preto ou mesmo Livrinhos, mas só os invejosos. Eu reconhecia-o por Bigodes ou então... não era só Bigodes, não por ele ter um grande e farfalhudo bigode mas por nunca ter tido uma pilosidade na cara, era como tivesse um rabo de bebé entre o lábio superior e o nariz. Houve uma vez, que estava no gozo com ele e passei o dedo por essa zona e acho que senti um pouco de pó de talco e cheirava aquelas toalhetes de bebé. Um pouco estranho.
Mas gostava dele.
Ele era agente da Polícia Judiciária e andava sempre com um Moleskine preto de capa mole, nunca ninguém lhe viu o interior. Mentira, eu uma vez estávamos a comer uma bifana ali na Praça do Chile, só dei uma mirada, como os homens fazem para olhar discretamente para o decote das mulheres mais guarnecidas de peito, mas desta vez em vez de um "ó porco estás a olhar para onde!" ou "queres ver mais de perto, vamos para a minha casa ou para a tua", mas neste caso foi um murro que eu tive de resposta, um nariz partido e um "nunca mais olhes".
Bigodes quando ia às cenas de crime ele desenhava tudo o que lhe diziam e no meio dos desenhos ele conseguia descortinar pistas e por vezes o autor da brincadeira, como ele chamava.
Nesse dia do murro no nariz, ele não estava a ver nada. Bem que olhava e redesenhava, basicamente estava a almoçar com um fantasma, ele estava mais interessado no caderno do estilo do que na bifana que já lhe tinha comido. E boas que eles são.
"Xor Jorge é mais uma Super Bock!" grita o bêbado local lá do fundo.
"Aqui eu não cobro os se faz favores!" diz entre dentes enquanto a bifana caí num banho quente de óleo de uma frigideira que já não vê o seu amigo Fairy desde que o Convento do Carmo foi abaixo. Eu acho que só com uma frigideira assim é que se consegue cozinhar as melhores bifanas ou febras.
Sem mais nem menos fiquei com as duas cervejas na minha camisa dos 300, que eu continuo a dizer que é uma Fred Perry, mas o que diz na etiqueta é Daddy Perry e a bifana que eu tinha roubado do Bigodes ao colo e um "paga tu que eu já sei quem ateou fogo ao prédio na Morais Sores!"
Fiquei parvo, o Jorge diz o mais alto que pode, visto que ele hoje estava rouco e saiu uma vozinha meia estranha "A grande Livrinhos! Prende esse gatunos todos!"
Depois de gastar os guardanapos na minha Daddy Perry e pagar a conta, vim a encontra-lo passado 3 meses e ele explicou-me como descobriu.
"É fácil Gil, sabes quando uma pessoa desenha até à borda do papel. Esquece tu não sabes desenhar. Quando fechas o livro fica algo desenhado na lombada, neste caso era o nome do piromaníaco na lombada lateral e na lombada superior tinha o número de bi. Simples não?"
"Claro."
Que inveja tenho deste gajo.

15 agosto 2007

A mentira

Foi tudo uma mentira para poder fugir das saias da mãe que pouco tempo antes tinha casado com um outro homem. A história é a seguinte: ela divorciou-se a 10 de Setembro de 1979 e no mês seguinte apaixonou-se por outro homem. Um tal de Gil Andréty, de boas famílias italianas ligadas ao mármore, mas ao ser apresentado a Rui, este achou-o meio bicha.
Rui era homofóbico e com medo que "aquilo" se pegasse disse que ia de fim-de-semana para a montanha com a namorada da altura.
Foi tudo uma mentira. O que ele decidiu foi ir meter-se debaixo das calças do pai, logo no fim-de-semana seguinte à festa de casamento da mãe com o Andréty.
Mas quando chegou a casa do pai, viu-o com outra mulher. Ficou revoltado pois o seu pai tinha jurado à porta do tribunal, após o divórcio, que “Nunca mais quero ter mulher alguma.”
O Rui realmente foi de bicicleta para a montanha. Chegado ao lago prendeu uma pedra à sua perna e o cadeado da bicicleta ao cós das calças juntamente com a bicicleta.
A única coisa que encontraram dele foi uma carta à namorada a dizer apenas "Amo-te" colada ao cacifo do armário da escola.

27 fevereiro 2007

Não sei, muitas dúvidas

- Achas que sim?
- Não sei.
- Por mim sim
- ... ok é para o nosso bem e o futuro dele.
- Exacto, é mesmo nisso que estou a pensar. Melhor para ambos.
- E vamos onde?
- Não sei, a vizinha da minha avó faz é mas é um pouco caro, mas...
- Pedimos ajuda aos meus pais.
- Porra se pudesse ir a um hospital era melhor.
- Mas eu não te quero perder.
Eles abraçam-se e dão um beijo muito trenurento.
- Vamos fazer o tal aborto.
- Sim.

03 julho 2006

30 junho 2006

28 junho 2006

22 junho 2006

Deixei de estar apaixonado passei a estar Inesado.

Um beijo, mas dado por mim.

21 junho 2006

19 junho 2006

18 junho 2006

14 junho 2006

12 junho 2006

10 junho 2006

08 junho 2006

FATS/STAFF