11 dezembro 2009

Dança de dedos

Num beco escuro e muito apertado encontrei três dedos, dois deles dançavam uma moda muito entrelaçadinhos, que tocava numa cassete de 90 minutos. As colunas eram duas caixas de ovos de seis.
O terceiro, que era um mindinho muito delgado, estava encostado num canto a beber um dedal de verniz, para ver se passava o tempo.
Tive muita pena da solidão desse mindinho. Saquei da minha navalha muito usada pelo meu avô e cortei o meu mindinho da mão direita. Estanquei a hemorragia com o lenço.
Os dois entenderam-se e começaram a dançar.
Mesmo assim achei que a festa estava muito morna.
Cortei o anelar da mesma mão, era o dj porque aquela música nem o meu avô ouvia. O single de Spank Willy causou alguma estranheza, mas rapidamente os dedos deram às falangetas um novo ritmo.
Eu gosto de ver muita gente divertida e de imediato a navalha cortou o médio e o indicador. À primeira fiquei arrependido por os ter cortado porque não queriam dançar, mas a música seguinte era a "Kiss and Resolve" e aí estava mais um casal de dedos entrelaçados a dançar.
A festa durou mais uns cinco minutos porque veio o gato da vizinha arruinar a festa destruindo tudo.
Da mão direita só o polegar ficou, não há problema vai servir para eu apanhar uma boleia para o hospital mais próximo porque já estava a sentir fraqueza de tanto sangue perdido.

3 comentários:

Inês disse...

ADOREI!
O artista está a crescer.

João Concha disse...

excelente!
(parabéns ao autor... e à ilustradora)

Guilherme disse...

estranha beleza mórbida deste texto...simplesmente divinal