02 julho 2009

O Amor Irá Nos Separar

Esta discussão, mais tarde o mais cedo, haveria de surgir.
- É a última vez que te digo para não limpares os meus escritos. Da próxima vez que passares com o paninho embebido em Sonasol, eu pego em mim e nos meus filhos e vou-me embora onde possa escrever quando e onde me apetecer.
- Nossos filhos. – rectificou Frederike e repetiu. – Nossos filhos. Se queres escrever pega num papel. As paredes não servem para escrever. – disse com toda a calma do mundo, pois não vale a pena gritar.
O resultado foram dois dias sem se falarem. As pazes, como manda a Lei dos Amantes são reatadas na cama, com uma apaixonante noite de amor.
O quarto estava frio. As almas mortas estavam na cama aquecida pelo coito selvagem que tanto lhes aprazia. Frederike desceu do pescoço delgado até à vulva de Alice ainda húmida o dedo indicador que parecia que ia desenhado figuras no seu corpo.
- O que achas de tu escreveres e eu ilustrar? – disse ao ouvido em vez de dizer “amo-te” – Podemos até depois pensar em editar o que surgir para um livro. - propôs Frederike.
- É in…crí…vel. Já não me lembro de uma noite tão excitante como esta. Mas não. – aí Alice perdeu o controlo. Tirou o indicador de cima dela e começou-se a vestir o tom de voz com mais pujança - Tu não sabes mesmo quando parar? Sabes da minha patologia mas estás sempre a apontar o dedo, a tentar arranjar-me.
As mãos de Frederike subiram até à nuca, percebendo, outra vez, que metera a pata na poça. Tinha que fazer algo.
De um salto da cama para o chão, caminhou até ao escritório, deixando-a sem palavras e com a cabeça deslizando de um lado para o outro do pescoço, questionando o destino dele.
Chegou à terceira gaveta de aglomerado e tirou a caneta que Alice costuma escrever nas paredes. Das duas uma ou mandava-a fora à frente dela ou a esconderia. Ganhou a terceira hipótese, o livro arbítrio.
Entrou no quarto, ainda a sua companheira de amores e desamores, estava a calçar uma das quatro meias. A caneta vermelha empunhada na mão esquerda escreveu, onde deveria estar a cabeceira da cama, “o amor irá nos separar”.
Não é das frases mais ternurentas de se dizer num momento peculiar destes mas foi a única forma de dizer que nunca mais iria apagar o que quer que fosse do que ela escrevesse.
- Olá! Queres ir tomar um café?
A primeira reacção foi de desconfiança, mas como para Alice estava tudo acabado e os gémeos estavam em casa da querida sogra porque não aceder ao pedido do seu futuro ex-marido.
O café tinha um ambiente jazzístico, dois músicos com ar de pelintra estavam agarrados ao saxofone e ao baixo. A música não interessava, até que este não era o café onde ele costumava ir.
- Como é que te chamas? Quero-te conhecer – pergunta Frederike, deixando Alice perdida na conversa. Chega a cabeça para a frente e pergunta.
- Onde é que queres chegar com essa conversa da tanga? Daqui a nada estás-me a falar do tempo – os olhos dele não largavam qualquer movimento de Alice. Num movimento brusco, a mão dele rodeia a cabeça e puxa para um beijo, mas falhou. Acertou na bochecha. De imediato tenta outra vez e aí o beijo prolonga-se, havendo um assentimento da parte dela. Os dois olhos abrem muito devagar, como que ainda estivessem a apreciar o beijo.
Um golo no gin tónico serve para aclarar a voz e reflectir o que ele vai dizer a seguir, mas é bastante simples.
- Eu amo-te loucamente.- disse esta frase batida tão baixo que todo o bar ficou a olhar para os pombinhos. A cena finaliza com um beijinho e um sorriso de ambas as partes.

1 comentário:

sara disse...

gosto pá, gosto.