17 junho 2010

Lutador de sumo

Mas o caído lutador de sumo ficou cravado no sofá vermelho, só inclinando-se para guardar a missiva de Ohayou manchada de sangue, que há segundos lhe tinha dado.
Pegou no copo de maracujá, levou-o à boca e quando estava a acabar viu dois polícias e entrar na sala muito apressados com as armas na mão.
- Pousa o copo! Pousa o copo! Pousa o copo! - repetiu o sargento.
Em câmara lenta o copo pousou na berma da mesa e estilhaçou-se em mil pedaços. Shinozuka estava calmo demais, comparando o stress da força policial que entrara na sala. Neste momento era mais que as mães.
O sargento repetitivo pegou-lhe no pulso esquerdo, rodou para trás das costas e o frio do ferro das algemas abraçou o pulso. Quase não fechava.
Uma voz gritou Shinozuka!
Saltou e estava o seu irmão a segurar-lhe o braço com o fim de o acordar.
- Estavas a ter pesadelos.
Shinozuka limpou o suor com o braço.
- Chegou uma carta para ti. Conheces alguém que se chame 19?
- Possivelmente sei quem é?
- Possivelmente?

07 fevereiro 2010

Menina que não dança não ama

Ilustração: Sofia Morais (obrigado)
-A menina que não dança não ama. - diz o dj de trás da pilha de cd.
Esta foi a primeira frase que Valquíria ouviu quando entrou na discoteca Céu Dançante. Vinha acompanhada de mais 3 amigas que não tem nada a ver com a história. E a cobrir o seu corpo um normalíssimo vestido cor-de-rosa, mas curto.
Como ela quer amar teve que dançar. Não é grande esforço para ela.
E dançou, dançou tanto que já estava em modo automático. Os pés, ancas, braços e cabeça dançavam como se obedecessem à música sem grande querer. Até a preta menina dos olhos dançava na íris verde, como de um palco se tratasse.
Ela sentia-se como uma diva, só ela é que contava, já nem se lembrava que tinha vindo com as suas amigas.
-Quem dança sem par é como se fosse um pirata sem a perna de pau. - mais um mandatário do dj.
E nesse preciso momento uma jovem aproxima-se da Val.
-Quero ser a tua perna de pau. Queres ser a minha pirata?
-E que tal irmos trocando à medida que formos dançando?
Val sentiu pela primeira vez amor à primeira vista. Mas o seu coração caiu e foi esborrachado quando o pé de Val beijou de uma forma bruta do seu amor.
-Tu és burra ou quê - passou-se o seu ex-amor-à-primeira-vista - Não sabes dançar, burra.
Val virou-lhe as costas para não ver as lágrimas que já manchavam o vestido cor-de-rosa. Sentou-se num escabelo no bar e ficou aí, olhando para o coração que lhe foi retirado e era pisado por todos que iam pedia uma bebida ao bar.
Só saiu de lá quando uma das suas amigas apanhou o coração e a levou a dançar.

30 janeiro 2010

Snob

- Agora que finalmente o Euromilhões me saiu não vou comprar nenhuma casa no Algarve. Vou comprar neste bairro.
- E abandonas a tua na Lapa?
- E porque não? Agora que sou mesmo rico qeuro ver como vive o povo.
O amigo em surdina disse
- Snob
- O quê?
- Compra aquela dos arcos

29 janeiro 2010

- Eu não acredito, ele está mesmo a tirar um burrié do nariz. Já alguma vez tinhas visto um gigante a tirar um burrié do nariz?
Alice olhou para ele, olhou para o gigante, olhou para ele outra vez e disse:
- Eu nunca tinha visto um gigante.

28 janeiro 2010

O viajante cego

É preciso ter azar. Taparam-me os olhos, logo o meu sentido mais apurado.
Sei que estou numa selva, pois sinto a humidade e ouço os barulhos de animais. E é de dia, mesmo estando húmido, sinto o calor do sol. As pingas de suor já caem.
A floresta deve ser densa, porque já e bateram todas as folhas do mundo no braço e nas mãos. De certo choveu porque tenho as mãos molhadas, detesto mãos molhadas.
Peço desculpa estou constipado.

27 janeiro 2010

Recordações mais ou menos vividas

- Esta foto é de quê?
- Foi quando eu e o meu marido fomos dar uma volta de balão.
- Tu não sofres de vertigens?
- Sim. Ele tirou a foto e eu ia fazendo companhia. Estou a ver as imagens da viagem pela primeira vez.

26 janeiro 2010

- Alice e isto é onde?
- Não faço a mínima ideia. - disse com desprezo pois estava a escrever.
- Oh Alice o que é que aconteceu à filmagem para estar toda termida? Um sismo? - disse a amiga com um ar curioso. - Ou o Pedro estava-te a fazer cocegas?
- Não, estava a escreve o que estava a filmar.