04 fevereiro 2011

Escadas a metro

Saí da firma já o sol me estava a queimar os olhos. Entrei no metro e pensei que fosse da queimadura, mas penso que não, vi uma senhora de idade a descer as escadas de costas. Muito devagar, segurando-se com a mão magra, que mais parecia umas raízes segurando-se ao chão. Perna esquerda, perna direita, mão esquerda, bengala direita era o esquema de descida em rapel pelas escadas ocidentais do metro do Oriente.
- Precisa de ajuda? - perguntei. Ela levanta os olhos por cima dos óculos, baixa-os e continua a descer.
- Precisa de ajuda para descer? - insisto.
Desta vez nem me olha.
- Não seria melhor descer de frente? - finalmente uma reacção. Olhou-me de modo diferente e faz-me um sinal para me aproximar e inclino para a frente.
- Tenho medo. - diz-me em surdina - Tenho medo de ver o medo, assim desço de costas. E com esta me inclino para trás.
- E se eu a ajudar consegue descer de frente e encarar o medo das escadas?
Os olhos azuis com uma moldura enrugada à volta de muito medo ter pressentido e visto olham-me. A bengala muda de mão. E eu torno-me na sua bengala.
Descemos as escadas. Perdemos o metro, peço desculpa e obrigado. - larga-me a mão troca a bengala de mão e enquanto espero pelo metro ela sobe e desce as escadas a provar que nunca teve medo.
Eu sorri-lhe.