24 outubro 2008

Jonny Bigode

Ele foi um dos maiores se não o maior dos maiores, era mesmo grande, nunca conheci um gajo tão bom no que fazia, era mesmo mesmo bom no que fazia.
Ele era o Bigodes. Alguns tratavam-no por Preto ou mesmo Livrinhos, mas só os invejosos. Eu reconhecia-o por Bigodes ou então... não era só Bigodes, não por ele ter um grande e farfalhudo bigode mas por nunca ter tido uma pilosidade na cara, era como tivesse um rabo de bebé entre o lábio superior e o nariz. Houve uma vez, que estava no gozo com ele e passei o dedo por essa zona e acho que senti um pouco de pó de talco e cheirava aquelas toalhetes de bebé. Um pouco estranho.
Mas gostava dele.
Ele era agente da Polícia Judiciária e andava sempre com um Moleskine preto de capa mole, nunca ninguém lhe viu o interior. Mentira, eu uma vez estávamos a comer uma bifana ali na Praça do Chile, só dei uma mirada, como os homens fazem para olhar discretamente para o decote das mulheres mais guarnecidas de peito, mas desta vez em vez de um "ó porco estás a olhar para onde!" ou "queres ver mais de perto, vamos para a minha casa ou para a tua", mas neste caso foi um murro que eu tive de resposta, um nariz partido e um "nunca mais olhes".
Bigodes quando ia às cenas de crime ele desenhava tudo o que lhe diziam e no meio dos desenhos ele conseguia descortinar pistas e por vezes o autor da brincadeira, como ele chamava.
Nesse dia do murro no nariz, ele não estava a ver nada. Bem que olhava e redesenhava, basicamente estava a almoçar com um fantasma, ele estava mais interessado no caderno do estilo do que na bifana que já lhe tinha comido. E boas que eles são.
"Xor Jorge é mais uma Super Bock!" grita o bêbado local lá do fundo.
"Aqui eu não cobro os se faz favores!" diz entre dentes enquanto a bifana caí num banho quente de óleo de uma frigideira que já não vê o seu amigo Fairy desde que o Convento do Carmo foi abaixo. Eu acho que só com uma frigideira assim é que se consegue cozinhar as melhores bifanas ou febras.
Sem mais nem menos fiquei com as duas cervejas na minha camisa dos 300, que eu continuo a dizer que é uma Fred Perry, mas o que diz na etiqueta é Daddy Perry e a bifana que eu tinha roubado do Bigodes ao colo e um "paga tu que eu já sei quem ateou fogo ao prédio na Morais Sores!"
Fiquei parvo, o Jorge diz o mais alto que pode, visto que ele hoje estava rouco e saiu uma vozinha meia estranha "A grande Livrinhos! Prende esse gatunos todos!"
Depois de gastar os guardanapos na minha Daddy Perry e pagar a conta, vim a encontra-lo passado 3 meses e ele explicou-me como descobriu.
"É fácil Gil, sabes quando uma pessoa desenha até à borda do papel. Esquece tu não sabes desenhar. Quando fechas o livro fica algo desenhado na lombada, neste caso era o nome do piromaníaco na lombada lateral e na lombada superior tinha o número de bi. Simples não?"
"Claro."
Que inveja tenho deste gajo.