21 março 2006

O Pica

O meu primo é muito parvo. Estava na Piriquita a comer um travesseiro quando ele aparece a rir-se que nem um perdido.
“Então.” digo eu “O que é que foi desta vez?”
Ainda se riu mais. É muito estúpido.
“Senta-te aí que eu mando vir um chá de tília para ver se te acalmas.”
Lá se sentou, pediu cancelou o pedido do chá e mandou vir um travesseiro que estavam a sair quentes.
“Vinha eu a ler o Destak no comboio quando vem o pica…”
“Quem?” digo eu, que nunca andei de comboio, nem saí de Sintra.
“O fiscal, o senhor que anda a ver quem tem ou não O título de transporte.” E desatou-se a rir outra vez.
“Tu com a idade ficas cada vez pior.” disse eu abanando a cabeça.
“Ok, vem o homem, e ele pede-me o bilhete, ao que eu lhe respondo que não tenho…”
“Tu não compras o bilhete!” gritei com ele todo irado.
O meu primo mais calmo respondeu:
“Posso acabar de contar a história?”
Gestualmente disse que sim com uma semi-vénia.
“E respondo que não tenho. Ele de imediato diz com um tom de voz autoritário «Então tem de me acompanhar até à estação de Sintra onde vou ter que o autuar»” imitou o tom de voz do homem. “Eu respondo que não percebo porque é que eu tenho de ter o bilhete. Ele fica parvo a olhar para mim.” o meu primo riu-se outra vez. Colocou a mão dele no meu ombro e disse que agora é que vinha a melhor parte.
“Entramos no gabinete do chefe da estação. E o chefe da estação inquire porque é que eu não comprei bilhete. Ao que eu lhe respondo porque tenho passe.” partiu-se a rir durante uns bons cinco minutos. Os camones e os empregados ficaram a olhar para a nossa mesa.
“Ó Telmo, era só isso que me tinhas para dizer que tinha tanta piada?” disse eu com imensa calma.
“Sim.” disse ele a olhar para mim. Virou-me as costa e disse “Não tens sentido de humor nenhum.”

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