01 maio 2006

A Peste

Literatura de Casa-de-banho
Antes de alguém ter aparecido com a ideia de haver blogues, que são de fácil criação, onde as pessoas escrevem lá tudo, desde o diário do pequeno Daniel que tem 3 meses de idade até aos autores desses blogues que só escrevem textos que não lembra a ninguém que eles chamam de nonsense.
Dantes não havia nada disso, portanto uma pessoa escrevia nas portas e paredes das instalações sanitárias públicas, claro. Aí também havia grande diversidade de contextos. Por exemplo os sexuais "Joana tem uma farta área púbica", ou mesmo "Queres ter sexo escaldante liga para o 231 121 121" (o número é falso portanto nem vale a pena ligarem para ele) e o clássico "Faço tudo. Liga-me para 231 121 121". E os apaixonados, que mesmo com as calças em baixo, sentados no altar de porcelana que escreviam "João + Maria", "Amo-te Maria" e em que na casa-de-banho das senhoras estava um a dizer "João, estou apaixonado por ti. Ass: Maria". O cinema também já explorou esse tipo de literatura no filme "Doidos à Solta" com Jim Carrey e Jeff Daniels, em que Lloyd Christmas (Jim Carrey) estava a urinar numa casa-de-banho de uma estação de serviço e começa a ler "Vou-te tornar num homem às 17:55 do dia 23 de Novembro" (as data possivelmente estão mal) e às 17:55 do dia 23 de Novembro entra um homem na casa-de-banho em que com um pontapé arromba com porta, e o resto não vou contar. Luís Vaz de Camões esse grande poeta do século XV, se por acaso houvesse casas-de-banho públicas no seu tempo, toda a sua obra teria de ser vista dentro da casa-de-banho do metro dos Restauradores.
Porque é que nenhuma editora se lembrou de editar um livro de literatura de casa-de-banho? Como fizeram com blogues de pessoas conhecidas. Na minha opinião fizeram bem, porque aquele tipo de obra é para ser vista no local, com os cheiros e sons produzidos pela flatulência da pessoa que está na sanita ao lado. Como os blogues, que devem ser vistos nos sites, logo é tão má ideia editar blogues em livros como deixarem a Margarida Pinto Correia escrever.
Talvez algum crítico literário algum dia diga que o João Fonseca (é meu vizinho e dá na coca) que escreve na casa-de-banho do Centro Comercial Colombo é um grande escritor ou mesmo algum director criativo de uma agência de publicidade pegue nesse talento que escreve bons headlines e bodycopys nas portas da casa-de-banho rasgando-as com a chave de casa.
Lembrei-me. A par da literatura clássica em que existe uma variedade de material para escrever, por exemplo: computador, máquina de escrever (para os mais tradicionais), lápis ou mesmo uma esferográfica (obrigado aos "amaricanos" por a terem inventado). Na escrita de casa-de-banho também há várias maneiras de escrever, como o já utilizado na literatura clássica, o lápis e caneta, mas depois também existem instrumentos que são muito próprios e só utilizados neste na escrita dessa literatura que são as chaves de casa, ou qualquer tipo de chaves (se for marceneiro pode também utilizar a chave-de-fendas), o isqueiro também é utilizado mas é mais para os tectos, queimando-os, há quem use o batom (estou a incluir as mulheres também) que fica muito bem para mensagens dos apaixonados. Por incrível que pareça eu já vi, quando andei na minha secundária, uma dedicatória do António para a Cláudia escrito com fezes e penso que com as do próprio (podia ter sido menos escatológico, mas também não criava tanto impacto).
Eu só peço a todos os nossos leitores e vossos amigos para não escreverem com qualquer tipo de material. Quem diz escrever também diz gravar com algum objecto metálico (chaves de casa, com a parte de metal do isqueiro ou mesmo chaves-de-fendas) porque a minha tia costuma limpar as casas-de-banho do Centro Comercial das Amoreiras e ela anda com um esgotamento porque um engraçadinho resolveu dizer que esteve na guerra da Guiné em 1980 (não me lembro de nenhuma) com um pasta que os militares utilizam para se camuflar. Por favor façam um blogue mas se não tiverem internet, escrevam no rolo de papel higiénico. Obrigado, a gerência agradece e eu agradeço pela minha tia.

Sem comentários: